Francisco B. Assumpção Jr.
O desenho é uma forma de comunicação que fica no meio do caminho entre o brincar e o pensar. Daquele traz o aspecto lúdico e prazeiroso e do último carrega a possibilidade de estruturar idéias, pensamentos e de construir um mundo real e imaginário.
Segundo alguns estudiosos, a criança começa desenhando mais o que sabe do fenômeno do que aquilo que realmente vê. Assim, muito antes de procurar copiar situações reais que presencia, ela desenha aquilo que conhece de uma pessoa ou de um objeto.
Conforme sua idade e seu momento de desenvolvimento, ela representa essa realidade de modo diferente, não somente pelo seu desenvolvimento gráfico, mas principalmente pelo seu desenvolvimento mental, que lhe permite compreender o mundo de maneiras diferentes.
Em um primeiro momento, aproximadamente entre os 2 e os 5/6 anos de idade, a criança desenha de acordo com um significado que ela mesma atribui a ele. Passa assim de representações muito simples e primitivas até desenhos mais elaborados e mais próximos a realidade pessoal.
É a partir dos 7/8 anos que ela começa realmente a desenhar aquilo que vê, começando inclusive a, aos poucos, elaborar perspectivas espaciais nas figuras que faz, com melhores planos de conjunto e proporções métricas. Paralelamente, com o desenvolvimento de um padrão moral próprio e não mais copiado dos pais, ela passa a criticar mais a sua produção ocultando mais aquilo que pensa.
Entretanto, ao mesmo tempo que é claro que a criança se projeta em suas produções - desenhos, brincadeiras - revelando desejos, frustrações e aprendizado, é também claro que a observação desses fenômenos não pode ser considerada de maneira linear e simbólica ,com cada elemento tendo um significado específico. Isso porque o desenho nada mais é do que uma forma de representação da existência infantil, só podendo ser compreendido portanto dentro de um contexto. Dessa maneira, deve-se ser muito cauteloso quando se interpretam desenhos ou jogos infantis. Eles proporcionam, isso sim, mais um elemento para que um profissional possa, apoiado em uma história clínica e no exame da criança, obter maiores informações sobre ela mesma.
Dessa maneira, um desenho isolado não tem significado. A respeito do desenho enviado, algumas poucas coisas podem ser ditas, uma vez que o autor representa somente a figura materna, aliás provavelmente a mais importante dentro de sua constelação familiar com as demais figuras podendo ter vários significados, somente possíveis de serem considerados em função dela própria .
Seria extremamente audacioso pensar que qualquer presença tivesse um sentido absoluto, passível de ser decodificado como um símbolo universal. Isso porque em realidade, ela pode representar desde aspirações do desenhista até o reconhecimento de companheiros, a necessidade de companhia ou um sem número de possibilidades.
É importante se considerar que os desenhos não permitem predizermos condutas, a evolução da criança ou quaisquer outras possibilidades vistas de maneira isolada.
Eles são, isso sim, somente mais uma possibilidade para podermos compreendê-la dentro de seu mundo e de sua realidade. Porém, para que tenham sentido, devem ser vistos dentro de um contexto amplo.
fonte: psiquiatriainfantil.com.br
0 comentários:
Postar um comentário